sábado, 25 de junho de 2016

Conceitos iniciais de Tomb Raider

Dando continuidade ao cronograma de aniversário, eis aqui um texto baseado em 4 Early Tomb Raider Developing Plotlines, publicado algumas semanas atrás no Core Design Tribute Fan Site. Ao invés de uma simples tradução, pedi autorização para desenvolver um artigo próprio.

Todos já ouvimos falar de Laura Cruz, mas igualmente interessantes são as ideias originalmente esboçadas para o primeiro jogo. Muitos elementos chegaram à versão final, é verdade, mas é curioso seguir a linha de pensamento por trás desses conceitos iniciais.

Uma constante que permaneceu inalterada é a estrutura do jogo. Além da jogabilidade "cinematográfica" focada em cinco pilares (exploração, plataforma, combate, quebra-cabeças e armadilhas), a estrutura do jogo se baseava em recolher peças de um mesmo artefato de diferentes sítios arqueológicos para acessar um último nível. O uso de animações em computação gráfica para criar um senso de continuidade e entrelaçar os níveis também estava previsto desde o início.

A história original já trazia Lara como uma arqueóloga que se tornou mercenária e havia sido contratada por um bilionário – Willard Stirling – para recolher artefatos ao redor do mundo, sem saber das reais intenções do contratante. Nessa primeira instância, reunir seis artefatos criaria um dispositivo para distorcer o tempo e o espaço, abrindo passagem para diversos mundos paralelos. Willard na verdade era um Nephilim, banido para a Terra milênios atrás, e sua única chance de voltar para seu lar seria através de um desses portais.

Algum termo em particular chamou sua atenção?

Em uma revisão posterior, Lara era retratada como especialista em encontrar artefatos raros. Não por diversão, mas sim por um perverso prazer xenofóbico em revendê-los por lucro. Ao invés de um contrato, ela invade uma cidade inca perdida em busca de artefatos para revender, mas tudo muda quando ela encontra o diário de um explorador do século XIX.

Enquanto ela parte ao redor do mundo em busca de peças de uma chave mitológica, ela está sendo secretamente observada pelos Atlans, últimos remanescentes de uma civilização destruída cem mil anos atrás. Eles somente intervêm quando ela recupera a última parte da chave. Lara naturalmente elimina essa ameaça e parte para uma pirâmide mestre para usar a tal chave.

A pirâmide, na verdade, atuava como uma prisão para o demônio que destruiu todas as civilizações antigas. Inconsequente, ao tentar ativar a pirâmide com a chave, Lara liberta esse demônio e, ao perceber o que fez, deve retraçar seus passos para aprisioná-lo novamente antes que o mundo seja destruído.

Curiosa coincidência?

A versão seguinte do roteiro trazia questionamentos mais filosóficos. Considere o desenvolvimento cultural e tecnológico dos últimos 4000 anos. Talvez seja estranho que, na vastidão da pré-história, nossos ancestrais nunca conseguiram desenvolver qualquer forma de civilização. Quem sabe isso até tenha acontecido, mas éramos lançados de volta ao barbarismo por uma catástrofe ou outra.

Essas mesmas teorias conspiratórias citam os continentes lendários de Mu e Atlântida. Platão descrevia Atlântida como um continente incrível, com grandiosas cidades repletas de construções cristalinas semelhantes aos arranha-céus do mundo moderno. Mu seria outro continente que supostamente hospedava uma civilização incrível. Essas culturas avançadas eram veneradas como deuses, após o contato com a população indígena e primitiva da América, África e Ásia. Essa origem em comum poderia explicar os elementos similares entre as antigas civilizações.

A lenda diz que Mu e Atlântida teriam se enfrentado em uma guerra que resultou na destruição completa das duas nações, deixando alguns poucos resquícios acima do nível do oceano. Tudo que restou desses majestosos impérios são fragmentos de seu conhecimento, passados através das gerações pelos povos primitivos que haviam inspirado.

Eu não sei dizer o quanto desse pretexto é baseado em pseudoarqueologia, mas como fã de teorias de conspiração, acho o questionamento inicial interessante. De qualquer forma, essa ideia talvez tenha sido retomada em Anniversary (e, por tabela, Underworld).

Ah, sim. Nesta versão, a mercenária-arqueóloga é contratada por um misterioso homem, chamado Hamilton Graves, para encontrar as peças do Scion de Mu. Ele teria descoberto a localização da primeira peça em El Dorado. Existe uma animação incompleta dessa versão, onde Lara encaixa duas peças do artefato e vê uma projeção de um Moai da Ilha de Páscoa, indicando o caminho para a próxima peça:


E, assim, chegamos a uma das versões finais. Milhões de anos atrás, a civilização humanoide e avançada dos Atlans visitou a Terra, estabelecendo sua base cultural em um grande continente situado entre a América e a Austrália — Atlântida. Os neandertais, população então indígena da Terra, encararam a extinção com o surgimento e proliferação dos Homo sapiens, saindo de Atlântida para o resto do globo.

A estrutura social dos Atlans era governada por um triunvirato de sacerdotes; uma aristocracia de seres geneticamente melhorados, com poderes que os tornavam semelhantes a deuses. Seus nomes eram Qualopec, Tihocan e Natla. Natla, porém, era cruel e tirânica, e tramava uma forma de governar sozinha...

Essas possíveis histórias originais abrem brechas para questionamentos maiores. Talvez não dentro da história original, que não entrava em detalhes minuciosos assim, mas não acredito que seja apenas coincidência que muitos elementos parecem ter sido "relembrados" posteriormente. Em TRA, Qualopec não estava tão morto quanto parecia e Tihocan pode muito bem estar vivendo uma vida convencional secreta, da mesma forma que Natla, por exemplo.

No passado, eu divaguei sobre como vincular tudo a uma mesma civilização pode ter sido prejudicial para o desenvolvimento dos jogos, mas é engraçado pensar que essa era uma ideia que já existia desde os primórdios da franquia...