sábado, 11 de junho de 2016

Em busca de nossa Lara

Arte de Irishhips

Esta postagem compreende uma tradução livre e amplamente adaptada do artigo In The Search for My Lara, de autoria da cosplayer Helen Johnson. Como o artigo gira em torno do ponto de vista da autora, eu pedi permissão para alterá-lo de forma a refletir o meu para compartilhar por aqui, como parte do cronograma especial de aniversário. A mensagem original permanece inalterada.

Ao longo das últimas duas décadas, é notável o quanto Tomb Raider inspirou – e ainda inspira – todas as formas de vida que já passearam pelo saguão da Mansão Croft. Artes, contos, cosplays, filmes e até mesmo níveis e jogos inteiramente feitos por fãs. A motivação por trás desses projetos está enraizada na recepção geral da franquia, seja em seus altos ou baixos, mas a admiração pela arqueóloga que conquistou nossos corações e videogames é inegável.

Interessante é a forma como cada jogador assimila a personagem. Desde sua concepção, tanto a história como a personalidade de Lara sofreram diversas alterações no decorrer dos anos. O momento onde uma pessoa ingressa na franquia, combinado com seu jogo favorito, determina a forma que ela enxerga Lara Croft. 

Essa divergência é perceptível no universo das fanfics, por exemplo, onde cada autor acaba criando uma continuidade própria. Muitos descartam qualquer possibilidade de romance para a moça, enquanto alguns se atrevem a explorar cenários alternativos de como ela seria se estivesse em um relacionamento. Também existem aqueles que tentam entrelaçar partes das diferentes cronologias para chegar em uma amálgama da personagem; uma mistura de biografias que resulta numa narrativa única, produto de vinte anos de desenvolvimento.

E isso nos leva à Lara: quem é Lara Croft, afinal? É fácil dizer quem ela não é. Deixamos de vê-la como aquela sex symbol internacional de dotes surreais, por exemplo. Lara Croft surgiu numa época em que videogames eram vistos como produtos para meninos; e na segunda metade dos anos 90, com a chegada do PlayStation, o foco estava nos rapazes. As campanhas publicitárias giravam em torno disso e, embora Lara Croft atendesse a esse chamado, nem todos a viam desta forma.


Lara Croft é, talvez, uma das personagens mais "normais" dos videogames. Ela tem cabelos e olhos castanhos, não possui superpoderes, veste-se com roupas simples e carrega consigo um inventário relativamente modesto em suas viagens. Se fosse uma pessoa real, poderia facilmente se misturar junto ao público. É aquilo que ela faz, suas aventuras, que a torna singular. Nesse contexto, é fácil para qualquer indivíduo sobrepor traços de personalidade a uma pessoa comum.

Apenas nas narrativas mais recentes que Lara Croft tem sua identidade prescrita e delineada. Antes, era bastante vago quem ela era além de uma impressionante mulher portando duas pistolas – considerando-se a biografia original, é claro. Na cabeça de milhares de jogadores, porém, cada um de nós desenvolveu e cresceu com uma versão própria da personagem; a nossa Lara.

Na versão de Helen, a Lara de TR2013 pode amadurecer e se tornar a mesma vista em TR1 e AOD. Ela é extremamente inteligente e, apesar de nascida na alta sociedade britânica, prefere viver a sua maneira. Não se opõe a relacionamentos, e até já usou seu charme para manipular pessoas, mas ela não tem tempo para investir nisso. Para ela, lutar nem sempre requer armas, pois às vezes precisa lutar contra si mesma, sua linhagem ou expectativas da sociedade. Ela não é, e nunca foi, perfeita, mas vive a vida como acredita que ela deveria ser vivida.

Algumas pessoas podem ler essa descrição e pensar "Lara Croft não é assim", e é justamente isso que os fãs precisam valorizar. Existem muitas Laras, e nenhuma delas é definitiva. A franquia está absorvida demais na cultura popular para simplesmente sobrescrever-se as encarnações passadas. Cada um de nós possui uma Lara própria, e todos estamos corretos. Assim sendo, devemos celebrar essa mulher que, apesar de meros pixels, se tornou grande inspiração para todos nós.